sábado, 5 de junho de 2010

O OUTRO LADO DO DESERTO


Sexta-feira, o Rina e eu, fomos convidados para umas cervejas em um barzinho estilo europeu. Vocês já sabem que eu prefiro os “antros” mexicanos, mas o Rina gosta destes, então nós vamos alternando as saídas. Neste local, nós fomos apresentados ao senhor Francisco Rodolfo (professor de exatas, já aposentado), pai do Gabriel, colega de trabalho do Rina. Hoje em dia, seu Rodolfo se dedica a auxiliar a guarda fronteiriça, no resgate de pessoas perdidas no deserto.
Vocês não podem imaginar a paixão que este senhor nutre pelo deserto. Ele nos falou de um deserto que eu desconhecia. Falou que durante a noite, brota vida no deserto. Falou da beleza, das formas, das cores e do perfume concentrado das flores (árbol de luma, biznaga...). Falou dos animais. Das cobras (que segundo ele, não nos atacam se forem respeitadas), dos lagartos, dos iguanas (atenção: é um substantivo masculino), dos morcegos, das aranhas de cor negra ou café, dos coyotes, das raposas acinzentadas ou de cor marrom, de camaleões e escorpiões. Contou-me que a carne de iguana é deliciosa, e que não existem cactos venenosos. Que quando se toma pela primeira vez a água dos cactos, esta pode parecer muito estranha, porque é um líquido meio “colante” e fica grudado na língua e na boca. Mas que logo acostumamos, e que realmente os cactos salvam muitas vidas.
Falou também que neste deserto existe água e que se avistamos um tipo de planta rasteira que nasce em linha (tutillo), é porque a água está por perto. Mas que se uma pessoa não encontrar água e tiver que passar a noite no deserto, basta cavar um buraco, colocar algo lá (que sirva de copo), cobrir o buraco com um plástico ou um tecido (da própria roupa), colocar pedras em volta e fazer uma nova volta com areia, pela manhã, vai ter água ali.
Contou-nos que localizar as pessoas, não é uma tarefa fácil. Que isso requer muita atenção e que cada detalhe é muito importante. Por exemplo, se as pegadas são profundas é porque a pessoa estava caminhando depressa; se são muito arrastadas é porque já estava esgotada e então será encontrada logo. E que quando a pessoa está com as condições físicas normais, ela pode caminhar em média 5 km/hora neste tipo de terreno, que é arenoso e rochoso. Disse também, que é uma sensação maravilhosa encontrar as pessoas com vida, mas que quem foi encontrado, não esboça nenhuma reação, tamanho o esgotamento físico e emocional.
E para finalizar, ele disse que reconhece todos os perigos do deserto, mas que o pior inimigo do ser humano é a própria mente. Por isso ele alerta, que o mais importante é manter a calma emocional e o equilíbrio racional.

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